domingo, 26 de dezembro de 2010

Minha vida não tem Trilha Sonora.

Depois da separação dos meus pais, fui morar com meus avôs numa pequena cidade do interior do Paraná, chamada São João do Caiuá. Mesmo morando em uma cidade tão pequena e eles já idosos, aprendi a gostar de todos os gêneros musicais. Na casa deles tocava música dia noite.

Lembro-me de uma vitrola portátil, que tocava o dia todo. Tinha pilhas e pilhas de discos em vinil. Tudo o que você queria ouvir tinha lá, acho que por está razão me tornei eclética, e aprendi a ouvir e gostar de todos os gêneros musicais.


Ouvia tangos, boleros, salsas, quarteto em si, Big Bands, Elvis, Beatles... Enfim tudo. Eu vivia me chocalhando toda. Meu avô dizia que não era daquele jeito que se dançava tal ritmo. E a Cada música que eu dançava errado, ele vinha e me pegava pela mão, e logo estava eu na sala bailando com meu avô. (Porque no clube mesmo, nem pensar...) Eu adorava dançar.

Hoje não consigo entender como ele aprendeu tanto de música vivendo praticamente na roça. Não tinha televisão, e muito menos a cidade oferecia recursos para tanto. Não sei como ele sabia de ópera... Música clássica... Até porque eu sei que ele não tinha acesso a nada disso, como temos hoje. Mais ficava com seu rádio no pé do ouvido o tempo todo. Até quando estava no trabalho seu radinho estava do lado.

Tinha noites que ouvíamos ópera, Mozart, Vivaldi... No começo eu detestava, porque eu queria mesmo era dançar. Ele me dizia sente se no sofá feche seus olhos e entregue se na música. Mesmo sem entender, eu comecei não só a dançar mentalmente, mais a viver a cena e me apaixonei pela La Boheme de Puccini.


Nessa época foi comprada uma vitrola grande para a sala. E a vitrolinha passou a ficar no meu quarto e, ouvindo Puccini todas às noites já me sentia a própria Madama Butterfly.


Mas tudo isso mesclando com, Gonzaguinha, Nara Leão, Carlos Lira, Raul Seixas, Vinícius, Toquinho, Tom Jobim, João Gilberto, Dorival Caymmi, Nana, Elis... Além de toda a turma da jovem guarda que gosto até hoje.


Depois que comprou a televisão... Nossa que alegria! Podia ver e ouvir.  Vieram as trilhas sonoras de filmes e novelas.  Apaixonei-me por Wood Allen, Richard Gere... Influenciada pelas trilhas sonoros dos filmes.


Mesmo curtindo jazz e blues de Billie Holiday, Edith Piaf, Ella Fitzgerald... E também não deixava de ouvir e gostar da música sertaneja de raiz. Lembro-me de quando eu estava no sítio. Nossa vida era meio rural não tinha como não ouvir e gostar. A roda de viola feita com o pessoal dos sítios vizinhos era tudo de bom. Assim era a nossa diversão quando estávamos na época de colheita e tinha que ficar no sítio.


Meu avô tocava acordeom e violão como ninguém, sem nunca freqüentar uma escola de música. Não precisa dizer o quanto ele tentou me ensinar... Até aprendi tocar um pouquinho de violão mais eu não tinha nenhum interesse. Passou se um tempo e meu irmão Moisés veio morar com meus avôs também. Logo meu avô deu a ele um dos violões que foi comprado pra mim.  Meu irmão hoje toca violão, guitarra, baixo, teclado e bateria muito bem. Quando meu avô já estava com a idade bem avançada, e meu irmão tocava violão pra ele, seus olhos se enchiam de lágrimas. Acho que era de orgulho, porque ele sabia que tinha a influencia dele.


Quando chegava à cidade, eu corria ligar a televisão. Não perdia um programa do Chacrinha, colocava um maiô e passava  o batom da minha tia escondido e dançava igual as chacretes em cima de uma mesinha vermelha que ficava na sala... Sabia todas as coreografias. Minha avó ria muito quando eu dizia que seria uma chacrete. Era o meu sonho.


Nem precisa dizer que já me apaixonei por quase todos os cantores. Quando Elvis morreu chorei o dia todo. Estava me sentindo a própria viúva. E foi assim com muitos outros. Cada dia eu estava apaixonada por um cantor diferente. Mas um dia eu me apaixonei de verdade por um rapaz da cidade bem mais velho que eu, e não sei por que coloquei na minha cabeça que trilha sonora do meu amor (porque só eu e minhas amigas sabia, ele nem sonhava com isso) era Porto Solidão do Jessé.  Quando tocava a música no rádio, a minha amiga e vizinha corria me gritar que estava tocando a música em tal radio, e eu saia feito louca correndo pra ligar. Um dia estava em cima do pé de goiaba, quando a Ivanda me gritou. Na pressa pra descer, enrosquei meu pé no galho e me arrebentei lá de cima. Mesmo com as pernas e rosto todo ralado, saí correndo, mais quando liguei o rádio à música já tinha acabado.


Claro que o namorou não deu certo, porque o próprio não sabia. Depois comecei um namorico com o Pedro um guri da minha sala. (mais nunca nem pegamos na mão um do outro, só namoramos por olhares), a trilha sonora desse novo amor era Please Don't Go, quando tocava o sino da saída da escola, ele corria na frente e ligava a vitrola dele. E eu vinha com a Zoraide, Quitéria, e mais umas meninas e quando ouvia a música propositalmente colocada por ele, a gente sentava na praça e ficava ouvindo, e ele na janela olhando. Quando acabava a música, ele ligava de novo. Ficávamos horas ali sentadas ouvindo a mesma música.


Meu quarto era forrado de pôsteres que eu arrancava das revistas que meu avô, e meu tio Cido me davam de presente.


Meu tio era taxista na época, tinha um corcel vermelho, considerado uns dos carros mais top da cidade. Todos queriam andar no taxi do Cidão. Tinha umas luzinhas roxas, e nos bancos uma espécie capa peluda que agora não me recordo o nome e no banco de trás cheio de almofadas de crochê feitas pela minha tia Edite. E tinha também uma espécie de painel com uma frase escrita “Se amar é viver, vivo porque te amo”. (acho que já vi aquilo num carro de programa de humor. Ou na Brasília amarela/ mamonas assassinas). Tinha toca fitas e a noite quando não estava de serviço ele parava na pracinha e ligava o som com músicas de Erasmo, Roberto. E quando tocava a música do Eduardo Araújo, “Ele é o bom”, o povo pirava. Claro que para os dias de hoje é Brega. Mais era um sucesso só, nem precisa dizer que o corcel vermelho o ajudava nas conquistas. Ele pegava todas.



Minha tia Edite tinha mania de copiar em um caderno todas as letras das músicas, e quando ia limpar a casa e passar escovão, pois na época se encerava a casa e tinha que lustrar. Pegava aquele caderno e esgoelava de tanto cantar. Só sei que o chão era um brilho só. Ela se empolgava. Ás vezes meu tio Cido dizia: “Edite adoro ouvir você cantar... Fica quietinha um pouco. Canta mais tarde” depois que eu sair. A música “É Camisa 10 da seleção” cantada pelo Luís Américo, até hoje eu nunca esqueci a letra. Ela cantava milhões de vezes essa música.


De volta a Maringá, logo aconteceu o primeiro rock in Rio e logo fiquei fã de Nina Hagen, James Taylor e as bandas brasileiras dos anos 80, Kiko Zambianchi, Paralamas do Sucesso, Titãs, Banda Blitz, Legião Urbana, Rita Lee, Léo Jaime, Marina, Barão Vermelho, Lulu Santos... Fiquei tão fascinada, mais como não poderia ir, o jornalista Ângelo Rigon me deu de presente uma fita k7 com tudo que tocou lá. Tocava aquela fita dia e noite. Tenho a fita até hoje.


E os Menudos?... Além de dançar todas as coreografias me apaixonei perdidamente pelo Roy. Só comecei a freqüentar boate na época em que o Ângelo Rigon foi o DJ de uma. O fenômeno, do momento era Michael Jackson, dançava sem parar, por esse não me apaixonei, mais sou fã até hoje.


Depois passei a ouvir MPB, Fernanda Porto, Lenine, Vanessa da Mata, Skank, Maria Rita, Ana Carolina, Cidade Negra, Paulinho Moska, Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Ed Mota, Marisa Monte, Chico Cézar , Bebel Gilberto, Adriana Calcanhoto, Zélia Duncan , Jota quest, Ana Carolina e outros.E também U2, Simply red, James Blunt , Amy Winehouse, Suzanne Veja... E muito mais.

Os forrós de Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Elba Ramalho, Fala Mansa... Gosto somente para dançar, assim como o samba e pagode.


Não posso me esquecer dos sertanejos, Almir Satter, Vítor e Léo, João Bosco e Vinicius, Zezé di Camargo e Luciano, Jorge e Mateus, César Menotti e Fabiano... Olha a minha lista é enorme.


Então cheguei a uma conclusão que minha vida não tem uma trilha sonora especifica. Mais sim de feita de fases conforme a época.

Ah! Não gosto de música eletrônica, e funks... Também já passei da idade.

SANDRA BARBOSA®

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